Sunday, April 29, 2007

Cíclo (in)sensível ou Palavras do que foi

De mãos guardadas, caminham juntos
Em direcções opostas.

Olham-se, sentem-se,
Sem se sentirem ou olharem.
Choram-se,
Voltam sem se ficarem.

Ela, que te é
Mera silhueta de passado,
Que envolves nos braços,
Olha-te, sente-te,
Sem te sentir ou olhar.

Ele, que te é
Mera silhueta de passado,
Que te envolve nos braços,
Sente-te, olha-te,
Sem te olhar ou sentir.

Perdem-se no éter.
Os corpos vão, eles ficam.
A ânsia de viver espelha-se-lhes no ser
Mas perdem-se.

As mãos escondem-se,
O olhar desvia-se,
O sentir apaga-se...
Os corpos vão, eles ficam,
Caminhando juntos
Em direcções opostas.

Sunday, April 8, 2007

Liquidação

Flocos de cinza pairam no ar.
Sou eu.
São pedaço de mim.
E todos querem um,
Como se de loja de recordações se tratasse...
Pega (um),
Leva tu também um pouco de mim pra casa.
Leva um pouco da minha cinza,
Levem todos, (liquidação)
Que se vá toda a cinza de mim,
Para que fique o ser que ninguém pode levar.

Thursday, March 22, 2007

Lado nenhum

Se tu soubesses como é correr...
Correr desalmadamente,
Em direcção a nada,
Rumo a coisa nenhuma...
Correr só porque sim,
Sem ter de justificar cada passo...
Correr e não pensar,
Correr e não parar,
Até tocar o horizonte
(ou até ao esgotamento)
Sentir a brisa de uma janela aberta pelo caminho.
Ah, se tu soubesses como é não correr sozinho...

Sunday, March 18, 2007

Esse tempo...

(um obrigado a'O Vento, que me inspirou a escrever este simples poema...)


Tempo que passa no seu passo passivo,
Passa e não nos leva consigo.

Tempo incerto,
Tempo de engano,
Tempo de ser humano,
Esse tempo que é objecto
De desprezo profano.

Tempo que passou no seu passo passivo,
Passou e não nos levou consigo.

Tempo fugaz,
Tempo retardado,
Tempo desencontrado,
Esse tempo que é capaz
De prever o inesperado.

Tempo que sempre passará no seu passo passivo,
Passará, sem levar ninguém consigo.

Tempo fatal,
Tempo de esquecer,
Tempo de perder,
Esse tempo imortal
Que nos vê morrer.

Tempo...
Tempo que passaria, no seu passo passivo,
Passaria, se não nos levasse...

Friday, March 16, 2007

Ausencia de certeza

Não sei de onde venho nem para onde vou,
Perdida nas malhas do que sou
Arrasto-me e adio o pensamento
Pelo mais breve momento.

Se só falho porque não tento
Porque me custa arriscar?
Desfazer-me do sofrimento
E lutar...

Não sei.
Não sei.
Nem sei se quero saber.

Por muito que queira não quero pensar.
Por muito que sinta não chego a sentir.

Finjo que sei,
Finjo que penso,
Finjo que sinto...
A verdade é que minto,
E não consigo parar.

Talvez o nada seja o meu lugar...

Thursday, March 15, 2007

Da minha janela

Hoje, quando acordei o céu estava cor-de-laranja.
Vi-o cor-de-laranja da minha janela.
Do outro lado estava cor-de-rosa, de todos os outros lados estava cor-de-rosa, mas vi-o cor-de-laranja.
Hoje, quando acordei, vi o céu cor-de-laranja, da minha janela.
Não vi o sol.
Vi-o do outro lado, vi-o em todos os lados nos ceus cor-de-rosa, mas da minha janela não vi o sol.
Hoje, quando acordei, o céu estava cor-de-laranja da minha janela, mas não vi o sol.
Ele estava lá, mas não o vi.
Hoje, depois de acordar, vi nevoeiro da minha janela.
O céu estava azul do outro lado, estava azul em todos os lados, mas da minha janela nao o vi azul.
Hoje, depois de acordar, vi nevoeiro, da minha janela, onde o céu estivera cor-de-laranja, mas não vi o sol.
Hoje, quando o nevoeiro assentou, não vi o sol, vi a lua.
Do outro lado era dia, em todos os lados era dia, mas da minha janela vi a lua.
Hoje vi a lua, da minha janela, quando o nevoeiro, que cobria o céu cor-de-laranja, assentou, mas não vi o sol.
Hoje vi o céu cor-de-laranja no lugar de cor-de-rosa, vi nevoeiro no lugar do céu azul, vi a lua no lugar do sol.
Vi o passado no lugar do futuro, hoje, da minha janela.